O Homo sapiens e seus ancestrais correm desde que desceram das árvores, abandonaram o hábito de andar sobre quatro patas e adotaram a postura ereta.
Nos últimos 4 milhões de anos houve duas grandes mudanças na maneira como corremos. A primeira foi por volta de 2 milhões de anos atrás, na transição entre nosso ancestral, o Australopithecus afarensis (a famosa Lucy), e o homem moderno.
Os ossos de nossas pernas foram redesenhados pela evolução. As pernas ficaram mais longas e eretas, o comprimento dos dedos diminuiu e a sola do pé ficou arqueada.
Australopithecus afarensis (Lucy) |
Os ossos de nossas pernas foram redesenhados pela evolução. As pernas ficaram mais longas e eretas, o comprimento dos dedos diminuiu e a sola do pé ficou arqueada.
Muitos antropólogos acreditam que foi essa mudança anatômica que nos tornou capazes de correr longas distâncias.
A segunda mudança ocorreu em 1970, quando surgiram os tênis sofisticados com amortecedores no calcanhar.
Agora foi descoberto que essa segunda mudança, introduzida não pela seleção natural darwiniana, mas pela criatividade humana, provavelmente foi um erro. Essa descoberta vai alterar o formato dos tênis que você vai encontrar nas lojas nos próximos anos.
Os cientistas estudaram a maneira como cinco grupos de corredores de longa distância pisam no chão ao correrem. O dois primeiros grupos eram de corredores norte-americanos. Um corre habitualmente de tênis e outro, descalço.
Os outros três grupos pertencem aos famosos corredores de longa distância do Quênia, na África, e se dividem em: adolescentes que sempre correram descalços, adolescentes que sempre correram com tênis e adultos que passaram a correr com tênis recentemente. Aproximadamente dez corredores de cada grupo foram filmados enquanto corriam sobre pistas com sensores de pressão. Dessa maneira foi possível analisar exatamente como as pernas se comportam durante os passos e qual a pressão que o pé faz sobre a pista a cada instante.
O que foi descoberto é que, entre os corredores que habitualmente correm com tênis, a primeira parte do pé que encosta no solo é o calcanhar. Isso faz com que a pressão sobre a pista (e da pista sobre o pé) suba de 0 para 2,4 vezes o peso do corredor em menos de um centésimo de segundo.
Em um corredor que pesa 70 quilos, a pressão sobre o calcanhar sobe de 0 para 168 quilos. Quando o pé gira e a planta toca o solo, a pressão desce rapidamente e sobe novamente quando o peso passa para a parte da frente do pé.
Nesses corredores, que “pousam” na pista com o calcanhar, a cada passo a pressão sobe e desce duas vezes de maneira abrupta. Os tênis modernos atenuam o efeito, mas o sobe e desce continua presente.
Por outro lado, os corredores descalços, sejam eles quenianos ou norte-americanos, pousam na pista não com o calcanhar, mas com toda a planta do pé ou mesmo com a parte anterior. O efeito disso sobre a pressão é impressionante.
A primeira diferença é que a pressão aumenta dez vezes mais lentamente, chegando aos mesmos 2,4 vezes o peso em um décimo de segundo – e não em um centésimo de segundo. O segundo efeito é que a curva de pressão de cada passo deixa de ter dois picos e se transforma em um curva simétrica com um único pico.
Com base nesses dados, os cientistas puderam calcular as pressões e trações sofridas por cada junta e osso da perna dos corredores. A conclusão é que a perna dos corredores que pousam com o calcanhar, mesmo quando protegidas por um tênis moderno, sofre muito mais, o que talvez explique porque 75% dos corredores de longa distância e que usam tênis sofrem lesões.
A conclusão é que o uso de tênis acolchoados
deseduca os corredores,
induzindo o pouso sobre o calcanhar,
o que facilita as lesões.
Para um darwinista, isso não é nenhuma surpresa. A surpresa seria se um grupo de engenheiros em uma fábrica de tênis tivesse conseguido desenvolver em 30 anos uma solução melhor que a obtida pelo processo de seleção natural durante mais de 4 milhões de anos.
Afinal, a capacidade de correr longas distâncias foi selecionada porque aumentou a eficiência com que nossos ancestrais conseguiam abater a caça e fugir dos predadores. Até recentemente, muitas tribos ainda perseguiam quadrúpedes por dias, comendo durante a corrida, até que a presa, faminta e exausta, era abatida e devorada.
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EM 7 FEV 2010
CORRER COM TÊNIS OU DESCALÇO???
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