Há 15 dias, Emivan foi se olhar no espelho e tomou um susto gigantesco: metade do rosto estava paralisada. Hoje, faz fisioterapia intensiva para tentar recuperar os músculos da face.
Há pouco mais de 15 dias, o corretor de imóveis Emivan Ramos de Souza, 32 anos, levou um grande susto ao olhar no espelho e perceber que o rosto estava desfigurado. A boca se mostrava completamente desviada para um lado, um dos olhos não fechava e metade da testa não respondia a comando algum.
O único sintoma anormal sentido por Emivan momentos antes de constatar que quase 50% da face estava paralisada foi uma sensação de dormência na porção afetada, além de um estranho ardor na vista, como se ele estivesse prestes a chorar. "Não sei o que aconteceu. Procurei socorro médico, mas ainda não recebi o resultado dos exames mais apurados. Os testes que poderiam detectar um problema vascular ou de coração não apontaram esse tipo de descompensação. Ainda estou confuso e abalado. Tenho medo de não voltar ao normal", admite.
Tudo indica que o corretor tenha sido vítima da paralisia facial periférica (PFP), um distúrbio de causas diversas que atinge a musculatura da face. Dependendo do grau, uma hemiface — metade do rosto — fica parcial ou completamente paralisada, perdendo temporariamente a sensibilidade dos músculos. Em casos muito raros e mais graves, os movimentos não são recuperados, mas, em 90% das ocorrências, a cura total pode ser alcançada.
Embora mais comum na quarta década de vida, a PFP pode atingir até adolescentes. A doença não escolhe sexo, não dá avisos e é limitante. O susto e o desespero são naturais, porque o distúrbio abala a pessoa tanto física quanto emocionalmente. "Além da questão estética, há comprometimento da funcionalidade da boca e dos olhos.
Às vezes, é preciso se afastar do trabalho, porque a fala e a mastigação são comprometidas. O paciente sente-se constrangido em sair de casa", explica a fisioterapeuta Marina Berti. Foi o que ocorreu com Emivan. "Trabalho com o público. Meus clientes ficariam assustados ao me ver. Nos primeiros dias, mal consegui me alimentar ou falar com clareza", relata.
O nervo facial não é apenas uma estrutura motora que possibilita os movimentos do rosto. A inervação dessa região é também sensitiva e, quando afetada, altera o paladar e a própria sensibilidade.
A neurocirurgiã do Hospital Brasília Valéria de Araújo explica que é comum as vítimas da PFP imaginarem que a manifestação seja sintoma ou sequela de um acidente vascular cerebral. "O exame clínico é importante para o diagnóstico diferencial. A paralisia facial decorrente de AVC (1)é central e normalmente desvia a boca, mas a testa e os olhos são preservados", observa.
De qualquer forma, testes específicos, como tomografia computadorizada e ressonância magnética de crânio, devem ser conduzidos para investigar a causa do problema. "Fisiologicamente, é como se o nervo tivesse desligado. Por isso, quanto mais precoce o diagnóstico e tratamento, melhor a chance de recuperação completa, que ocorre na maioria dos casos", diz.
Prognóstico ruim
Cerca de 70% das paralisias faciais são periféricas. A PFP pode ser provocada por trauma decorrente de pancadas ou perfurações no rosto, infecções no nervo facial ou no ouvido, lesões pós-cirúrgicas, diabetes e até estresse, no caso daqueles que já têm a predisposição para o distúrbio. Entre 50% e 70% dos casos, no entanto, a mazela não está relacionada a tais transtornos.
O otorrinolaringologista do Hospital de Base do Distrito Federal André Sampaio adianta que, até pouquíssimo tempo atrás, quando o nervo facial sofria o "desligamento" e a raiz do transtorno não era encontrada, a PFP era identificada como idiopática ou paralisia de Bell. "Hoje, já sabemos que a paralisia de Bell é resultado da ação de um vírus que atinge o gânglio geniculado, estrutura relacionada ao ouvido. Nesse caso, o tratamento é feito com corticosteroides e antivirais", diz o especialista.
A intervenção cirúrgica é indicada apenas quando os medicamentos não resolvem o transtorno. "Vítimas de traumas ou tumores que comprometem o nervo facial podem precisar de cirurgia. Tenho um paciente que sofreu um acidente de moto e está prestes a ser operado. A pancada no rosto danificou o nervo de tal forma que não temos outra alternativa", acrescenta Sampaio. Estima-se que a incidência da PFP esteja entre 20 e 30 casos a cada 100 mil habitantes.
O olho afetado deve receber cuidados especiais, porque a vista fica exposta ao ressecamento e a lesões na córnea. O uso de colírios lubrificantes e de tampões é recomendado até que a função motora seja restabelecida.
Quando bem acompanhado, o paciente se recupera em algumas semanas.
Tanto neurologistas quanto otorrinolaringologistas
são unânimes em afirmar que,
seja qual for a causa da PFP,
a fisioterapia é fundamental no processo de recuperação.
O cirurgião plástico Alan Landecker, 37 anos, de São Paulo, é um exemplo. Atingido recentemente pela paralisia facial periférica, ele se recuperou em 20 dias, com o apoio de uma fisioterapeuta. "Foi de repente. O lado esquerdo da face perdeu a força. Meus olhos não fechavam, ardia muito e isso comprometeu completamente minha rotina profissional. Comecei a fisioterapia imediatamente e meu rosto voltou ao normal", conta.
Nas sessões de fisioterapia, são adotadas técnicas que aceleram a recuperação das funções muscular, ocular e mastigatória.
Os fisioterapeutas trabalham com estímulos motores e sensitivos que auxiliam a recuperação da sensibilidade, uma queixa constante de pacientes com PFP. "Usamos também a drenagem linfática, para eliminar substâncias tóxicas na face, e exercícios de mímica facial", observa a fisioterapeuta Marina Berti.
Ela reforça que o envolvimento de outros profissionais, como fonoaudiólogos e psicólogos, também pode ser necessário. "A PFP limita seriamente o dia a dia do paciente.
Ela compromete o rosto, que é nosso cartão de apresentação. Isso traz, sem dúvida, abalo em todos os sentidos. A ajuda de uma equipe multidisciplinar aumenta as chances de recuperação total", garante.
Ela compromete o rosto, que é nosso cartão de apresentação. Isso traz, sem dúvida, abalo em todos os sentidos. A ajuda de uma equipe multidisciplinar aumenta as chances de recuperação total", garante.
Fonte: chakalat.net saúde
VEJA TAMBÉM MATÉRIA PUBLICADA EM
24 JAN 2010
TREMOR DE PÁLPEBRA, POR QUÊ ISTO OCORRE?
VEJA TAMBÉM MATÉRIA PUBLICADA EM
24 JAN 2010
TREMOR DE PÁLPEBRA, POR QUÊ ISTO OCORRE?
Nenhum comentário:
Postar um comentário