Campanha do Ministério da Saúde pretende levar 2,5 milhões de brasileiros aos consultórios e mudar a mentalidade masculina
Quando não sentem nenhum sintoma, homens costumam fugir do médico
Homem não chora. Homem não sente dor. Homem é forte. Desde criança, os homens se habituaram a acreditar nessas célebres frases ditas pela sociedade. E pelos próprios pais.
Muitos levam essa teoria tão a sério que se sentem verdadeiros super-homens. Acima do bem e do mal, e da própria saúde. Esse é um dos principais motivos culturais que fazem com que os homens fujam dos médicos como o diabo da cruz. Outro, menos heroico, é que eles sentem medo. Medo de que os doutores de branco descubram alguma doença adormecida nesses corpos de “aço”.
Mário Paranhos, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, diz que “não ir ao médico dá segurança psicológica. Mas a realidade é outra”. De fato, a realidade é bem diferente. Pesquisas do Ministério da Saúde mostram que, do total de pessoas entre 20 e 59 anos que morrem no país, 68% são do sexo masculino. E mais, de acordo com o IBGE, os homens vivem, em média, sete anos a menos do que as mulheres.
Para tentar reverter esse quadro, o Ministério da Saúde lançou há dois meses a Política Nacional de Saúde do Homem que, entre outras medidas, pretende levar 2,5 milhões de brasileiros aos consultórios médicos e aos laboratórios.
Segundo o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Alberto Beltrame, “nosso objetivo é inserir o homem na atenção básica. Ao ampliar o acesso aos serviços de assistência integral à saúde, a iniciativa contribuirá de modo efetivo para a melhoria das condições de vida dessa população”.
Com um investimento de R$ 613,2 milhões até 2011, a meta é aumentar os números de vasectomias, ultrassonografias de próstata e cirurgias na rede pública de saúde. Além de capacitar um maior número de profissionais no atendimento ao sexo masculino e investir em educação e comunicação.
A importância da prevenção na saúde dos homens
Especialistas em saúde masculina estão otimistas com a iniciativa. Para José Carlos de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, “essa é uma bandeira que levantamos há tempos. Não havia qualquer iniciativa do gênero”.
Eles esperam que, com essa campanha do Ministério da Saúde, os homens passem a encarar consultas e exames preventivos como algo natural e corriqueiro. Isso diminuiria, e muito, futuros problemas de saúde, afirma Mário Paranhos.
- Na prática, o homem só vai ao médico depois de uma certa idade, quando as doenças não podem mais ser evitadas.
O trabalho é árduo. Não é fácil convencer homens como o advogado Izner Hanna Garcia, 39 anos, a procurar um médico. Ele afirma que nunca fez um exame de sangue, a não ser aquele feito durante a infância para saber o tipo sanguíneo. Diz que cuida muito bem da alimentação e procura fazer exercício físico, o que o mantém com a saúde em dia.
- Tudo é muito controvertido. Para uma pessoa saudável como eu, acho desnecessário fazer checkup. Isso só serve para beneficiar os planos de saúde.
O aposentado Romeu Jacomine, 62 anos, não é tão radical, mas também tem suas explicações para fugir dos consultórios. “Não encontro motivos para correr atrás de médico. Não sinto nada.” Há três anos, ele fez um checkup e ficou constatado que sua taxa de colesterol estava alta. O médico recomendou-lhe uma dieta e atividade física.
- Eu sei que preciso andar e me alimentar direito. Não preciso ir lá para saber disso.
De qualquer maneira, os médicos que cuidam do sexo masculino acreditam que esse tipo de campanha é fundamental para a saúde do homem, já que, culturalmente, ele não é educado para se cuidar. Ao contrário das mulheres, que desde a adolescência são levadas pela mãe ao ginecologista, os meninos, depois que passam da fase de ir ao pediatra, só vão ao médico quando estão doentes.
É o caso do publicitário Guilherme Gouveia, 48 anos. Há cinco anos ele começou a sentir tonturas e cansaço cada vez que fazia um esforço simples, como subir escadas. Meses depois, ele decidiu procurar um cardiologista, que lhe pediu uma bateria de exames. Todos negativos.
Mais uns meses se passaram, e Guilherme teve uma infecção urinária. Entre os exames pedidos, um hemograma revelou que ele estava com uma espécie rara de leucemia e que precisaria urgentemente de um transplante de medula. Passou um mês no hospital recebendo quimioterapia.
- Agora estou sendo obrigado a ir ao médico, tomei um susto. No início, ia uma vez por mês, agora, uma vez por ano.
Para Clineu Almada Filho, geriatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), “o ideal é que o pediatra fosse automaticamente substituído por um hebiatra [especialista em adolescente], um clínico geral ou um urologista, para que o jovem possa receber as mesmas orientações que as meninas recebem”. José Carlos Almeida concorda.
- O menino deveria ir ao menos uma vez por ano a uma consulta. Assim, ele poderia receber orientação sobre sexualidade, conhecer sua parte genital, conversar sobre prevenção de gravidez e de DSTs [doenças sexualmente transmissíveis]. E também aprender a fazer o autoexame do testículo.
Exame de próstata diagnostica 70% dos casos de câncer
O adolescente talvez nem saiba o que é a próstata, mas, certamente, já ouviu falar do tão temido exame de toque – o mais eficiente para detectar o câncer. E essa simbologia negativa sobre o exame é só mais uma barreira que impede a boa e tranquila relação com os médicos.
Acabar com esse tabu é difícil, mas é aí que entram a educação e a comunicação propostas pela campanha. Atualmente, um em cada 18 homens tem câncer de próstata, uma doença com 80% de chance de cura se detectada no início – com a ajuda dos exames de toque e de sangue, o PSA. Se a cirurgia for realizada no início do diagnóstico, as chances de cura do câncer de próstata, o que mais mata os homens, chegam a 80%.
Para Mário Paranhos, “morrer de câncer de próstata e não gostar de cuidar da saúde hoje em dia é burrice. O exame retal e o PSA são as melhores armas que temos para detectar o câncer de próstata”. E completa:
- Às vezes, um paciente vem com a queixa de disfunção erétil e descobrimos que tem ligação com problemas cardiovasculares. Um homem com mais de 40 anos pode ter diabetes, colesterol alto, problema de tireoide e muitas vezes não sabe.
É como diz o ditado, um homem prevenido vale por dois.
FONTE: Cláudia Pinho, do R7
Homem não chora. Homem não sente dor. Homem é forte. Desde criança, os homens se habituaram a acreditar nessas célebres frases ditas pela sociedade. E pelos próprios pais.
Muitos levam essa teoria tão a sério que se sentem verdadeiros super-homens. Acima do bem e do mal, e da própria saúde. Esse é um dos principais motivos culturais que fazem com que os homens fujam dos médicos como o diabo da cruz. Outro, menos heroico, é que eles sentem medo. Medo de que os doutores de branco descubram alguma doença adormecida nesses corpos de “aço”.
Mário Paranhos, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, diz que “não ir ao médico dá segurança psicológica. Mas a realidade é outra”. De fato, a realidade é bem diferente. Pesquisas do Ministério da Saúde mostram que, do total de pessoas entre 20 e 59 anos que morrem no país, 68% são do sexo masculino. E mais, de acordo com o IBGE, os homens vivem, em média, sete anos a menos do que as mulheres.
Para tentar reverter esse quadro, o Ministério da Saúde lançou há dois meses a Política Nacional de Saúde do Homem que, entre outras medidas, pretende levar 2,5 milhões de brasileiros aos consultórios médicos e aos laboratórios.
Segundo o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Alberto Beltrame, “nosso objetivo é inserir o homem na atenção básica. Ao ampliar o acesso aos serviços de assistência integral à saúde, a iniciativa contribuirá de modo efetivo para a melhoria das condições de vida dessa população”.
Com um investimento de R$ 613,2 milhões até 2011, a meta é aumentar os números de vasectomias, ultrassonografias de próstata e cirurgias na rede pública de saúde. Além de capacitar um maior número de profissionais no atendimento ao sexo masculino e investir em educação e comunicação.
A importância da prevenção na saúde dos homens
Especialistas em saúde masculina estão otimistas com a iniciativa. Para José Carlos de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, “essa é uma bandeira que levantamos há tempos. Não havia qualquer iniciativa do gênero”.
Eles esperam que, com essa campanha do Ministério da Saúde, os homens passem a encarar consultas e exames preventivos como algo natural e corriqueiro. Isso diminuiria, e muito, futuros problemas de saúde, afirma Mário Paranhos.
- Na prática, o homem só vai ao médico depois de uma certa idade, quando as doenças não podem mais ser evitadas.
O trabalho é árduo. Não é fácil convencer homens como o advogado Izner Hanna Garcia, 39 anos, a procurar um médico. Ele afirma que nunca fez um exame de sangue, a não ser aquele feito durante a infância para saber o tipo sanguíneo. Diz que cuida muito bem da alimentação e procura fazer exercício físico, o que o mantém com a saúde em dia.
- Tudo é muito controvertido. Para uma pessoa saudável como eu, acho desnecessário fazer checkup. Isso só serve para beneficiar os planos de saúde.
O aposentado Romeu Jacomine, 62 anos, não é tão radical, mas também tem suas explicações para fugir dos consultórios. “Não encontro motivos para correr atrás de médico. Não sinto nada.” Há três anos, ele fez um checkup e ficou constatado que sua taxa de colesterol estava alta. O médico recomendou-lhe uma dieta e atividade física.
- Eu sei que preciso andar e me alimentar direito. Não preciso ir lá para saber disso.
De qualquer maneira, os médicos que cuidam do sexo masculino acreditam que esse tipo de campanha é fundamental para a saúde do homem, já que, culturalmente, ele não é educado para se cuidar. Ao contrário das mulheres, que desde a adolescência são levadas pela mãe ao ginecologista, os meninos, depois que passam da fase de ir ao pediatra, só vão ao médico quando estão doentes.
É o caso do publicitário Guilherme Gouveia, 48 anos. Há cinco anos ele começou a sentir tonturas e cansaço cada vez que fazia um esforço simples, como subir escadas. Meses depois, ele decidiu procurar um cardiologista, que lhe pediu uma bateria de exames. Todos negativos.
Mais uns meses se passaram, e Guilherme teve uma infecção urinária. Entre os exames pedidos, um hemograma revelou que ele estava com uma espécie rara de leucemia e que precisaria urgentemente de um transplante de medula. Passou um mês no hospital recebendo quimioterapia.
- Agora estou sendo obrigado a ir ao médico, tomei um susto. No início, ia uma vez por mês, agora, uma vez por ano.
Para Clineu Almada Filho, geriatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), “o ideal é que o pediatra fosse automaticamente substituído por um hebiatra [especialista em adolescente], um clínico geral ou um urologista, para que o jovem possa receber as mesmas orientações que as meninas recebem”. José Carlos Almeida concorda.
- O menino deveria ir ao menos uma vez por ano a uma consulta. Assim, ele poderia receber orientação sobre sexualidade, conhecer sua parte genital, conversar sobre prevenção de gravidez e de DSTs [doenças sexualmente transmissíveis]. E também aprender a fazer o autoexame do testículo.
Exame de próstata diagnostica 70% dos casos de câncer
O adolescente talvez nem saiba o que é a próstata, mas, certamente, já ouviu falar do tão temido exame de toque – o mais eficiente para detectar o câncer. E essa simbologia negativa sobre o exame é só mais uma barreira que impede a boa e tranquila relação com os médicos.
Acabar com esse tabu é difícil, mas é aí que entram a educação e a comunicação propostas pela campanha. Atualmente, um em cada 18 homens tem câncer de próstata, uma doença com 80% de chance de cura se detectada no início – com a ajuda dos exames de toque e de sangue, o PSA. Se a cirurgia for realizada no início do diagnóstico, as chances de cura do câncer de próstata, o que mais mata os homens, chegam a 80%.
Para Mário Paranhos, “morrer de câncer de próstata e não gostar de cuidar da saúde hoje em dia é burrice. O exame retal e o PSA são as melhores armas que temos para detectar o câncer de próstata”. E completa:
- Às vezes, um paciente vem com a queixa de disfunção erétil e descobrimos que tem ligação com problemas cardiovasculares. Um homem com mais de 40 anos pode ter diabetes, colesterol alto, problema de tireoide e muitas vezes não sabe.
É como diz o ditado, um homem prevenido vale por dois.
FONTE: Cláudia Pinho, do R7
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